Flight To Sustainability

Por Nicolaos Theodorakis, sócio fundador da Noah. Empreendedor do Mercado Imobiliário e Financeiro há quase 10 anos com foco no mercado residencial de alto padrão. Tem experiência de mais de 10 anos na área de Investment Banking. Na Noah é o líder inquieto, inovador e inconformado.

Cada vez mais o assunto sustentabilidade tem se tornado uma realidade nos conselhos de administração e nas reuniões de diretoria das empresas. Hoje a sustentabilidade está empacotada na combinação da sigla ESG, Environment, Social and Governance, ou em português ASG (Ambiental, Social e Governança). Essas três iniciativas são fundamentais para que a empresa alcance a sustentabilidade de uma forma plena. 

Muitas empresas estão buscando a complementaridade das três iniciativas de diferentes formas. Algumas fortalecem mais o ambiental, outras mais o social e outras mais a governança, não talvez de uma forma completa mas com alguma iniciativa de impacto em cada uma delas. 

Alguns órgãos não governamentais e governamentais ajudaram muito a indicar, orientar ou mesmo direcionar as empresas para o caminho para a sustentabilidade. A ONU criou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), objetivos estratégicos para ajudar as empresas a acharem o caminho para a sustentabilidade, seja ambiental, social ou de governança. Os caminhos que foram bem-sucedidos foram aqueles que aliaram a economia a todos esses fatores. Ter uma empresa com sustentabilidade econômica faz com que as iniciativas ESG se perpetuem, gerando um ciclo de propósito virtuoso. Nesse sentido grandes iniciativas foram criadas e a última edição do Fórum Econômico Mundial teve uma grande relevância para o impulso da sustentabilidade no âmbito econômico e como o capital, as empresas e os negócios deveriam se comportar ao abordar o assunto perante a sociedade, trazendo a força de cada uma das empresas e do capital para impulsionar iniciativas em prol do meio-ambiente e da sociedade. 

Esse movimento é o que estou chamando de Flight to Sustainability e resume o caminho que as grandes empresas, capital e pessoas estão fazendo rumo a um mundo melhor, mais saudável e mais longevo. 

É importante que cada empresa e empresário faça uma reflexão de como o setor ao qual esta inserido ou a sua empresa estão atuando em prol da sustentabilidade. Quando a falamos de sustentabilidade na construção civil abordamos particularmente a questão ambiental pela grande influência que o setor tem no meio-ambiente. Isso se deve basicamente à influência da construção civil na poluição da nossa atmosfera. Hoje essa indústria é responsável por 42% das emissões de gás carbônico no mundo. 

Algo precisa ser feito, e deve ser feito muito rápido. Quando olhamos para um indicador como esse com lupa, observamos que grande parte deste montante, aproximadamente 30%, vem da operação dos prédios, seja da forma como usamos os prédios e os equipamentos neles utilizados, ou como os ocupamos. Muitas iniciativas estão sendo implementadas para a compensação ou redução desse montante. Grandes empresas da cadeia produtiva têm trabalhado para melhorar os insumos e equipamentos do setor no intuito de endereçar esse assunto de forma efetiva. Os demais 12% da emissão de gás carbônico no mundo vem dos materiais que nós usamos para a construção dos edifícios e propriedades, mais especificamente, aço e concreto. Ambos juntos, se fossem um país, seriam o 3º maior emissor de gás carbônico no mundo. Esse montante, já nos dias de hoje, é muito preocupante pois o mundo já tem hoje mais de 7 bilhões de pessoas no mundo que demandam imóveis residenciais ou escritórios. 

Se hoje já há essa preocupação, daqui a 20 ou 30 anos onde estima-se que teremos um crescimento populacional de mais de 3 bilhões de pessoas que vão demandar novas construções, mais casas e mais escritórios, será ainda mais grave. Então é natural e providencial que tenhamos que começar a pensar em uma nova forma de abordar a construção e a sustentabilidade nessa indústria. Está mais do que na hora da construção civil contribuir para o Flight to Sustainability. E quanto mais tempo demorarmos para endereçar esse assunto, mais complexa ficará sua solução no futuro. 

Até hoje pouco se descobriu em termos de tecnologia e formas de abordar essa questão da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente, mas um avanço tecnológico importante no estudo de materiais renováveis está sendo fundamental para que se consiga abordar esse tema de forma muito efetiva e sustentável. Essa solução aponta para o uso da madeira estrutural, o único elemento que tem poder estrutural e faz parte da economia circular. Há 20 anos desenvolveu-se na Áustria o Cross Laminated Timber, ou CLT, um elemento estrutural muito forte, leve, flexível e sustentável, tudo ao mesmo tempo. As características deste produto trazem um benefício fantástico para Construção Civil e para o meio ambiente. Para Construção Civil ele tem um efeito de substituição de produtos largamente usados ao longo da história que são poluidores. Sua flexibilidade contribui para uma construção mais profissional, mais fabril e consequentemente com mais precisão e com maior qualificação de mão-de-obra (indiretamente o efeito S do ESG). Esse novo elemento estrutural atende a todos os requisitos de regulação técnica de segurança na construção de um edifício.

O benefício principal para o meio ambiente é possibilita que tenhamos edifícios que sejam carbono negativo, ou seja, não só resolve a questão dos 12% de emissão de CO2 dos insumos atuais, mas também traz um efeito muito positivo ao tornar os prédios das nossas empresas e nossas moradias em “sequestrador” de carbono. 

Agora o mundo tem uma opção mais saudável. A opção de poder proporcionar para a nossa e para as próximas gerações um futuro mais sustentável, um futuro muito mais saudável, com um olhar muito forte para o meio-ambiente, proporcionando mais qualidade de vida, mais conexão com a natureza, mais estímulo à inovação e mais produtivo. 

Geralmente nas crises econômicas acontece o movimento do flight to quality, em que empresas buscam espaços melhores para colocar suas sedes e filiais, já que conseguem condições econômicas melhores em edifícios mais modernos e com mais estrutura. Esse movimento foi visto em várias crises financeiras recentes brasileiras. Um exemplo mais próximo é a última crise política que impactou na economia que vimos em 2014 e que fez com que muitas empresas aproveitassem para buscar negociações melhores para instalar seus novos escritórios. 

Com o impacto do COVID-19 nos vimos numa situação muito diferente, surgiram necessidades de ambientes mais saudáveis para que todos tenhamos o conforto e segurança de voltar aos escritórios e nossos ambientes de trabalho. 

Esse cenário fez com que conceitos importantes nos escritórios corporativos como os healthy buildings, por exemplo, se acelerassem. Eles trazem um local de trabalho muito mais confortável, higiênico e seguro para as pessoas. Além de serem ambientes que trazem muita sustentabilidade como é o caso dos empreendimentos de madeira ou Wood Building Design. Cada vez mais os escritórios precisarão que ser atrativos e convidativos pois, na nova realidade, competirão em algumas situações com o home office. Dessa forma, assim como as empresas, os escritórios também deverão ser mais sustentáveis.

É por isso que acreditamos no movimento Flight to Sustainability. Não basta apenas ir para um lugar de melhor qualidade. As empresas precisarão de lugares mais sustentáveis e saudáveis. Esse movimento não será exclusivamente nos ambientes de trabalho. Será na atuação das empresas com seus stakeholders e em todos os aspectos do ESG. Por isso a construção civil tem o dever de fazer a sua parte de “limpar a própria sujeira” e proporcionar espaços que ajudem e estimulem as empresas ocupantes a serem cada vez mais preocupadas com o tema. 

Que possamos todos juntos fazer esse voo para a sustentabilidade. E que seja rápido, enquanto é tempo.

  

University of Massachusetts, Design Building, Local: Amherst MA, Arquiteto: Leers Weinzapfel Associates  

Imagem de  Albert Vecerka / Esto

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